quinta-feira, 13 de março de 2008

Luisa no romance "O Primo Basílio"

Luisa, jovem de media burguesia, cabeça fraca e sonhos altos, casou-se digamos, por interesse ao que o engenheiro Jorge pudesse lhe dar o suposto conforto à jovem.
Dentro disso, Eça de Queirós quis tratar a sociedade burguesa do final do século XVIII, caracterizando seus pontos aguçados em dar crítica sutilmente à maneira que a classe de então vivia em Portugal e Europa. Com esse pano de fundo, temos em análise Luísa como personagem atraída pelo marasmo e em primeira oportunidade na ausência do marido o trai com seu primo Basílio, jovem elegante e charmoso.
A vida de Luisa foi muito desdenhada; ora sentava-se ao sofá ou passava horas ao piano. Este último era marcado sempre com as presenças e aceitações musicais, tanto por parte de Basílio como de seus amigos Sebastião ou Felicidade. Aprendeu inclusive canções que diriam o seu estado de espírito ou o que aceitaria e rejeitaria para si.
Tal comprovação se dá à uma vida pura e ingênua, e assim realçamos que o Primo Basílio não era nada galante ou cortês, ao que apenas seduziria Luisa para tê-la como mulher. Não tendo como evitar e aceitando os galanteios do primo, Luisa rende-se à um mundo fictício e irreal, tanto que quando se dá conta de si e do mal que ocorreu, repudia-se de tudo o que passou e quer ter seu amado Jorge de volta e o trato infinitamente melhor que antes de sua viagem à negócios. Nesse curto período surge a trama, Juliana sua empregada mal quista por todos, rouba-lhe duas ou três cartas e suborna sua patroa. Basílio parte com uma desculpa qualquer e deixa sua prima a vã de sua própria desventura. Assim Jorge volta e Luisa e atormentada todos os dias por sua empregada que a faz trabalhar para si e lhe exige mordomias. Chega assim a um ponto em que a dissonância da vida é aparentemente precária, quer dizer, tudo é uma rotina que deixa um ar úmido e parado no ar, tomando conta do espaço todo e de um futuro sem perspectivas.
Por fim, sem mais se aproximar do piano e auxiliando e implorando a ajuda de Sebastiao consegue finalmente as cartas e falece por aneurisma sua empregada. Jorge mais tarde descobre tudo e a jovem fica a mercê de uma doença infame que a consome por alguns dias até que a leva sem explicações.
De uma temática original que foi acompanhado em "O Crime do Padre Amaro", Eça explora o universo feminino em suas personagens assim como Machado de Assis, da qual, faz-se inclusive contrapontos em comum e analogias quanto a personagens de um ou outro autor.
O curioso é que a música sempre dá as caras quanto se trata destes dois autores. "Helena" de Machado de Assis, "Dom Casmurro", narrado em primeira pessoa por Bentinho ou mesmo em "O Primo Basílio", onde a musicalidade fluiu-se inclusive na passagem que foi musicada, ou melhor, declamada por Arnaldo Antunes em "Amor I Love You" em disco de Marisa Monte.
Põe-se aí o instrumento do piano sempre com a elite ou a burguesia em geral, mas que sempre acompanha os emblemas de uma sociedade em que gerações ou centenários ainda perduram muito o que apontar nos romances históricos, onde se sugere muito a analisá-los com leitura e afinco.

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