sábado, 29 de dezembro de 2007

Poema do Menino Jesus

Dentro do pouco tempo que tenho disponível (e que prometi trazer um poema de Fernando Pessoa) o faço agora antes que o ano encerre. Ouvindo tanto Maria Bethânia, como recitando este mesmo poema e entre tantos outros que a faz muito bem como "Ultimatum" entre tantos, estou a dizer que Fernando Pessoa com certeza é um dos maiores poetas existentes e dos quais mais admiro. Assinando este poema como Alberto Caeiro trouxe uma singeleza e uma leveza que Bethânia o "resumiu" com uma técnica incrível em seu CD e DVD homônimo "Maricotinha ao Vivo" onde me pareceu que a versão resumida pareceu-me mais bela que a extensa. Entretanto tudo à poesia é incrível e quem sou eu a dar opinião! Meu desejo era dizer um pouco do meu gosto e do que interesso antes de encerrar o ano. Com o que já trouxe aqui fiz uma pequena síntese do que sou culturalmente. Aí está o belo poema na íntegra.

Poema do Menino Jesus
Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.
"E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa
.... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono
.... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é
.... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Alberto Caeiro

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

25 de Dezembro e Festas de Fim de Ano

Com a já manjada música "Então é Natal" sentimos a nostalgia e a melancolia que o Natal produz e amolece os corações dos brasileiros. É tempo de festas e de se sentir feliz. Apesar de eu adorar muito Fernando Pessoa, onde publica na célebre "Natal" o recomeço e a obscuridade que a data nos atinge. É dele inclusive poemas que me deixam fascinado como Cada coisa tem seu tempo ao seu tempo... e ainda expressões que imagino como "coisas materiais são passageiras e coisas espirituais são eternas", que mesmo não sendo dele, eu o lembro como poeta tanto quanto o poema do Menino Jesus, onde emprega-se como Alberto Caeiro. Assim existe um texto que encontrei por acaso, e que pela data é válido lê-lo por completo, e lembrá-lo, assim como são as lembranças que o final de ano nos trazem como "flash-back".

Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda... Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um 'para sempre' pela metade.Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.
E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita:'Qual sua experiência?'.Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência... experiência.. Será que ser 'plantador de sorrisos' é uma boa experiência? Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:'Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo se renova?'

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Conceitos Impróprios

Desde o começo do mês penso em iniciar a construção de algum texto para transcrevê-lo neste blog. Pensando assim, nestes últimos tempos tive a iniciativa de propor a escrever um texto mais extenso, e que ao mesmo tempo seja intenso, como uma autobiografia, não autobiografica, prefiriria fazê-lo com outro personagem, mas com os mesmos propósitos. Com a facilidade de expressão de idéias, do moderno faça-o-que-quiser que corre à solto pelos meios de comunicação, não vejo dificuldades em um aluno às vésperas de se formar em Letras encontrar dofoculdades de raciocínio para se fazer uma boa argumentação, ou quem dera, um rascunho de um livro.
Conheço desde pequeno aquele ditado que "um homem deve ter filhos, plantar uma árvore e escrever um livro". Creio que tudo tem fundamento. Devemos transmitir, ou melhor, compartilhar o pouco que sabemos e além de tudo focar o que temos de útil para darmos nossa colaboração.
Há daqui exato um mês, finalizamos mais uma etapa. Mais um ano se finda. Que as expectativas não fiquem estacionados em papéis, que corram com toda a desenvoltura e oportunidades das quais são possíveis de serem realizadas. Se sua finalidade aui é o aprendizado, ótimo. Capaz de acreditar em algo mais, dê um passo a mais também, verá o quanto isso é necessário.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

20 de Novembro - Dia da Consciência Negra

Será que no século XXI está preparado para o convívio mútuo entre brancos e negros? Sabemos que negro é raça, preto é cor. Nossos irmãos negros têm os mesmos desejos e os mesmos ideais que a nossa fina pele esconde e colore em cada indivíduo. Ontem foi um dia de orgulho e para se lembrar o quão frágil é a sociedade contemporânea. Em quase quatrocentas cidades este eriado gerou nossas perspectivas e novos olhares para a cultura negra brasileira que representa com grande supremacia quase metade de toda a população brasileira. Os negros, mesmo recebendo menores apoios governamentais e menores salários que os brancos, não têm em tal século de progresso, a chance real de se igualar diante o homem branco. Por que será? As mulheres então, recebem menos ainda que os homens, e a mulher negra recebe menos ainda que a mulher branca. Onde está o direito e como podemos cobrar do branco (e quem sabe do negro também) uma melhor instrução para o nosso futuro? A desigualdade está aí diante dos olhos, não enxerga essa realidade quem não quer.


Estive em Curitiba quase uma semana e percebi o quão miscigenada é a nossa nação. Curitiba quase não possui negros ou mulatos. Ao caminhar pelo centro e em grande parte de alguns bairros, surgem um ou outro negro(a). Não sei o que acontece. Ao acaso se ficam flagelados aos arredores dos bairros menos favorecidos ou são empregados domésticos presos dentro das residências dos brancos. Apenas notei o descaso de alguma "Curitiboca" que sem estudo, ou ouvir o pedido de uma informação, responde com gritos que: -Não!... Não!... Não sei! Foi uma sucessão de gritos ao impor sua ridícula verdade de desconfiança. Eu nunca vou esquecer esta cena. A agressão verbal se dá quase que exclusivamente aos "berros" por classes menos instruídas, onde a pobreza e o desemprego geram conflitos e incertezas ao seu próprio futuro. Agarram tudo o que têm e não olham para os lados, nem ao sustentar uma informação, que no intuito de obter uma resposta é agredido verbalmente.

Nossa "Consciência Branca" toma conta do país há muitos anos, é hora de igualdade. Que a desconfiança quanto à classes distintas de pessoas não alterem o convívio pacífico que é o grande ideal utópico desta grande nação. Polêmicas e sussurros surgem em qualquer beco. Idéias brilhantes e verdades indiscutíveis são postas para o lado de fora da razão.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Nara Leão: A Musa da Bossa Nova

Depois de ter assistido a algumas partes do documentário feito pela Globo em "Por Toda Minha Vida", e sendo que é depois de uma antiga admiração que eu já possuía por Nara, compreendi a importância e a falta que Nara tem à música brsileira, e em especial a nossa MPB. Conhecia parte de sua obra e havia dúvidas que me foram esclarecidas como a causa de sua morte, que há uma semana descobri ser o câncer que a matou. Nara era única e da mesma forma que Erasmo Carlos disse na entrevista (ao que preferi compreender) foi que a coisa mais linda era o timbre único que Nara posúía, era pessoal e intransferível. Nara era apaixonada por seus joelhos, e estes não foram mostrados no DVD do Programa Ensaio de 1973, (mesmo ano da gravação do DVD de Elis Regina, ambos em preto-e-branco).
Neste DVD, podemos ver Nara contando fatos de sua vida, música e carreira da forma que a caracterizou sempre, com sua meiguice e timidez típicas. Depois de várias remasterizações e de encaixotarem toda a sua obra em duas caixas de Cd´s com 13 ou 14 Cd´s cada. Isso é um fato depois de tantos relançamentos e das vendagens que apresentaram números significativos, revela que, o povo brasileiro começa a acordar e a entender sobre suas origens e compreender a real importância de nossa Cultura.
Nesse exemplo, Nara e Elis são indiscutíveis. Apresento esse exemplo de Nara, pois este é o mês de aniversário de minha mãe, e a acho muito parecida com Nara em 1987. Como Nara causa ausência nesses dias que a MPB caminha para a repetição. Nossa salvação está em Bethânia ou em Adriana Calcanhotto, que a acho a artista mais parecida com Nara dos velhos tempos.

sábado, 29 de setembro de 2007

Análise e Argumentação na Comunição de "Esaú e Jacob" de Mahcado de Assis

Dentro de uma Comunicação apresentada por Luis Eduardo Veloso Garcia, Hugo Rafael Pires dos Santos e Éverton Bernardes Wenceslau, foi discutido dentro desses parâmetros, características que predominaram nesse romance com o intuito quase que exclusivo a essa dualidade que Machado foi tão feliz em apontar: a visão Política e a Visão Bíblica. Se por um lado, o autor de Esaú e Jacob queria de fato reconciliar-se com novas características, foi feliz em ter enveredado por assuntos tão polêmicos e por ângulos sutis para se abordar com inferência à classe social da época.
As críticas sociais quanto a estrutura familiar gera em personagens a própria dualidade que existe em toda a narrativa. Seus personagens inicialmente dão uma primeira impressão de uma indecisão que logo é percebida pelo leitor. A família Santos responsável pelos gêmeos, tem sua estrutura muito mal fundada com relação ao pai dos meninos; como primeiro ponto, Santos obscurece seu passado ao se retratar pobre (isso é iropnicamente retratado com um enterro de um primo que foi quase completamente encobertado), seguindo para um enriquecimento inexplicavel, vê-se obrigado a não revelar seu passado com tanta clareza. Sua mulher, Natividade, vinda de família tradicional burguesa é um oposto à isso e seus costumes são mais sutis.
Ao caráter político, aqui se resume à luta da Monarquia X República e que ironicamente dada como ambiguidade, é como se dormissem como Monarquia e acordassem em regime de República. O caso melhor explicado é com a família Baptista que influenciado pela mulher Cláudia, Baptista tem decisões vagas e é representado por uma figura muito "frágil" ao tomar suas decisões. Viu-se que Marechal Deodoro não fez questão de tomar parte do Regime Militar vigente e por pouco tempo houve uma intransição de governos, que aqui é muito bem representado pelo "Caso da Taboleta" do Confeiteiro Custódio. Custódio visita Aires às pressas para que este dê seu parecer ao descobrir que com o novo Governo, sua COnfeitaria, intitulada "Confeitaria do Império" seria uma impecílio para seus negócios. Com esse ponto de vista da época, e sabendo-se que Custódio mandara fabricar uma nova Taboleta, ficara aterrorizado em imaginar que os seguidores do outro regime atirassem pedras em sua Confeitaria, e quebrassem suas vidraças. Assim Aires o orientou com algumas idéias pertinentes que foram ouvidas por Custódio com atenção. Aqui é percebido o como preocupante e sutil Machado quis enfocar esse dualismo dentro da própria política da época, e estamos nos tratando do final do século XIX para o início do século XX, e como as questões políticas são tão atuais como dantes. Hoje poderíamos considerar uma comparação com os principais governos do país, como psdb e pt. Essa questão, assim como a visão bíblica trazem incômodo e geram reflexão ao leitor.
Adentrando ao dualismo Bíblico, que já inicia com o título do romance, "Esaú e Jacob", Machado quis remeter o romance ao que praticamente aconteceu na Bíblia eno Livro de Gênesis, dos capítulos 27 ao 33, onde acontece o nascimento dos gêmeos filhos de Isaque e Rebeca, Esaú e Jacob, que já dentro do útero materno, houve brigas para ver qual deles receberia a primogenitura do pai.Com essa visão e sabendo que Rebeca recebera de Deus esse parto, pois não era tida como mulher para gerar filhos, descobriu-se que dela nasceriam duas grandes nações que seriam diferentes entre si. Apoiando-se nesse pensamento, percebemos a crítica que Machado faz em particular à algumas atitudes de algumas personagens que são construídas com tom irônico, inclusive o próprio narrador. As características de comportamento das personagens, geram os conflitos de "aparência e essência" e de "interesses próprios". Como personagens, iniciamos com Esaú e Jacob, como dito anteriormente, foram gêmeos que sendo idênticos apenas na aparência, começaram a se desentender já no útero de Rebeca. Aqui no romance os principais personagens, que são os gêmeos, são representados por Pedro e Paulo, que também fazem alusão aos apóstolos de Jesus, Pedro e Paulo, que Natividade, tia dos meninos ouviu em um Credo em uma Missa e interessada com os nomes os apresentou à mãe Natividade e dela fez seu parecer aceito.Natividade, a mãe dos garotos, significa em forma da palavra, o Nascimento de Cristo em especial, e também aos demais Santos. A tia Perpétua tem o significado em infinitivo (perpetuar) de eternizar-se ou se tornar eterno. Santos, o pai dos meninos, receb este nome, pois mesmo sendo cristõ de pouca fé e recorrendo ao Espiritismo, significa na expressão "muitos santos, ou diversas religiões", da qual faz-se alusão à seu nome. e outro personagem interessante, é o Irmão das Almas, que no capítulo III recebendo uma nota de Natividade logo após ter feito uma consulta com a Cabocla do Castelo, recebeu uma nota alta, no valor de dois mil réis, e que duvidando da originalidade da nota, a pôs contra o Sol para ver se era legítima. Percebendo que era verdadeira, a pôs em seu bolso e dizendo que também era uma alma, pegou a nota para si. No final, este último personagem, ironicamente reaparece, agora rico e com seu próprio nome, Nóbrega, que significa ser nobre, e vemos que Mahcado mais uma vez se faz irônico ao interpretar um personagem que nem possuía um nome ao ínício da narrativa e que agora ressurge com status perante a sociedade e ainda presenteia uma mendiga com uma nota de também dois mil réis, e que ainda acredita que mesmo passando algum tempo, entregou a mesma nota que recebera tempos atrás para esta senhora.
Todo o contexto religioso gira em torno do nascimento dos gêmeos. Percebmos que Natividade sendo uma burguesa de família tradicional, acompanha as rezas, missas, etc; recorre ao misticismo ao se encontrar com a cabocla adivinha que diz que coisas grandes aocntecerão aos meninos, e dá-lhe a expressão de "cousas futuras"! natividade sempre se baseia nessa crença e se faz mais forte que a própria religião católica da qual pertence. A ironia aqui é pelo fato dela essencialmente viver baseada nesta hipótese e viver de aparências nos moldes católicos que pertencia àquela época. Aí se acha a antagonia (oposto) do que era para ser ao se optar pelo misticismo ao catolicismo.
Em alguns capítulos é evidente a predominação de caráteres religiosos ligados a obra. No primeiro Capítulo, que é iniciado em forma de parábola e gera um caráter universalista à obra, e valoriza abrangentemente o romance nessa linguagem mais universalista, que é acompanhada até o capítulo XV e vago diluidamente até o capítulo XLVII, onde nestes intervalos são citados filósofos e algumas cenas retiradas da própria Bíblia, onde a política toma maior volume ao passo que os meninos crescem e formam seus caráteres.No Cap. VIII, é adotado o nome dos gêmeos graças a tia dos gêmeos.Cap. XI, Santos visita o espírita Plácido e lá se conhece Aires. No Cap. XIV, Aires conta aos dois a história de "Esaú e Jacob", e no Cap. XV intitulado "Teste David cum Sibylla", Santos conversa com Plácido e estando supostando em Gálatas, cap. II, versículo 11, uma rixa existente na Bíblia entre os apóstolos Pedro e Paulo. Note que nestes números Bíblicos o primeiro termo (II) são dois algarismos romanos idênticos um ao lado do outro e no segundo exemplo com o versículo 11, reaparece a imagem da semlhança entre seres e existentemente uma rixa bem ao meio.E no CAp. XLVII, intitulado "São Mateus, IV, 1-10, a família Baptista é comparada ao termo existente na Bíblia, onde Jesus é tentado pelo Diabo. Aqui no romance, Cláudia tenta Baptista ao não ser conservador e não enviar uma carta ao presidente, aqui acontece a comparação bíblica. Natividade também de maneira sutil usa de artifícios para fazer com que Aires agisse em favor de seus filhos e lhes desse conselhos quando estivessem maiores e não ouvissem mais as pessoas da própria família.
Percebe-se que Machado usou ironia e ambiguidade, junto ao dualismo em quase toda a obra e aqui nem os críticos, quanto aos leitores nunca esperariam encontrar em seus romances. Machadoenfatiza nestas personagens e ecumenismo e a discordância entre aparência e essência que são notórios e comuns e por mais que sejam velados e não admitidos pelas mesmas instituições e seguidores. Machado foi totalemtne avançado à sua época e não à toa conseguiu manter toda a obra com características romanescas.
Ao final pode-se perceber que os gêmeos seguiram a previsão e que as mulheres ligadas à eles, Flora, que era inexplicável e nunca escolhera com qual dos dois ficava, delirou mais de uma vez e na última vez antes de morrer os uniu em sua mente, dizendo "Ambos quais"? Natividade também os reconciliou por pouco tempo quando viu o resultado da previsão e tornaram ambos deputados em partidos diferentes (Pedro era conservador e Monarquista e Paulo Republicano e impulsivo). Assim ao final foi inexplicável entender como nunca se entenderam e seguiram seu caminho um para cada lado. Aires disse que nada estava diferente, que sempre foi assim.


Não esquecendo e comentando com meus amigos que deixaria aqui o registro da grande Palestra com o Lingüista Fiorin na cidade de Jacarezinho, onde abordou a difuiculdade do professor de Língua Portuguesa ao trabalhar este tema dentro da sala de aula, e terminando resumiu tudo à uma apologia de relatar que o professor de português é aquele que cria cidadãos. Assim foi encerrada uma semana muito tumultuada!

Grande abraço à todos e ate mais...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Pedro e Paulo: Dualismo Bíblico e Político na Obra Machadiana

Dentro do universo da obra de Machado de Assis, seu penúltimo romance publicado Esaú e Jacob é o menos procurado pelos críticos e leitores. Depois de alcançar seu ápice em Dom Casmurro (1899), Machado alcança o crepúsculo e abrange o tema: República X Monarquia, que certamente os homens de sua época não pensariam encontrar em seus romances. O caráter dos gêmeos aqui representados por Pedro e Paulo é exatamente essa dualidade de caráteres diferentes. Por um lado Pedro é conservador, e por outro, Paulo é impulsivo. Este tema não é desconhecido para Machado, pois é percebido que o autor de Esaú e Jacob, retira seu título da bíblia situado no livro de Gênesis nos capítulos de 27 a 33. Vemos que a forma que utiliza para apresentar a narrativa, em forma de parábola, expande seu texto para uma linguagem mais universal. A rivalidade dos irmãos acontece já no ventre, onde abos causaram uma gestação agitada sentida pela mãe. O mesmo aconteceu com Rebeca na bíblia, antes de gerar Esaú e Jacob. A indecisão e a rivalidade é sentida em quase toda a narrativa e os personagens deste romance quase sempre dão uma primeira impressão de uma indecisão que é logo percebida pelo leitor. Machado é com certeza avançado à sua época; e parafraseando Nicolau Svcenko: "aconteceram mudanças registradas na literatura brasileira, e que sobretudo se transformaram em literatura".

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A Partir de Hoje

O inicio é tudo, é nele que avaliamos uma pessoa ou um comportamento que dificilmente será mudado em nosso caráter. Ao conhecermos algo novo, essa dúvida, essa motivação é algo extraordinário, e assim, oínício é marcante. Por isso escolhi como primeiro título essa que é também uma letra de música de Oswaldo Montenegro, de seu mais recente trabalho.
A partir de hoje se começa uma nova caminhada e é a partir de agora que se gera pontos de vista sobre pessoas ou culturas.
Sejam em-Vindos!